Cmte. Babau
Voo de recheque
Como prometido, conto hj a história do primeiro piloto de helicóptero a voar com uma prótese substituindo o braço direito. Conheça Carlos Santoro, mais conhecido como cmte. Babau (nome dado ao bicho papão no nordeste). O menino bagunceiro nascido em Fortaleza deixou muitas histórias engraçadas pra contar por lá. Ele sempre aprontou muito, e numa dessas, recordo-me de uma das mais engraçadas. Certa vez brincando de correr em cima do muro em pleno dia de chuva ele caiu e quebrou os dois braços. Foi aquela correria...leva pro hospital, engessa... Resultado: ele teria que ficar uma semana sem ir na aula.
A mãe era filhinho pra lá, filhinho pra cá, toda atenciosa e preocupada. Com os afazeres domésticos ela se distraiu, e cadê o Babau? Acreditem, ela se deparou com uma cena inusitada. O moleque tava andando de bicicleta...rsrsrs Consegue imaginar? Aí não teve mais desculpas, se pode andar de bicicleta, tb pode ir na aula, daí acabaram as férias e ele virou assunto no colégio! Depois de alguns anos aprontando todas no Ceará, era a vez de Goiânia conhecer o Babau. Em 2002 ele se mudou com a família para a capital de Goiás. Não demorou nada para que Babau ficasse conhecido pelo seu jeito descontraído e gozador. Mas paralelo a isso, ele tb demostrava ser um garoto esforçado e trabalhador. Qndo conseguiu o primeiro emprego tratou logo de comprar uma Garelli, uma mini moto bem barulhenta. A coitada tava tão velha q toda semana tinha alguma coisa pra consertar...mas era uma piada, qndo o Babau tava na quadra de cima, todo mundo já sabia que ele tava chegando.
O tempo passou e com a maioridade vieram as responsabilidades. Babau começou a estudar com 18 anos o PPH ( curso teórico de piloto privado pra helicóptero ), aos 20 ele começou a voar profissionalmente e desde então é referência na aviação de Goiânia. Eu me arriscaria a dizer q ele faz parte de um pequeno e seleto grupo q alavancou esse tipo de aviação em Goiás. Trabalhou no Estado do Pará onde consolidou a vida profissional e fez muitos amigos. Aos 23 anos voltou para Goiás em busca de novas carteiras. Após realizar o PC ( curso teórico para piloto comercial) e se preparar para a prova da ANAC, aconteceu o inesperado.
No dia 1° de
Maio de 2010, Babau sofreu um grave acidente de
carro. A fratura exposta rompeu ligamentos importantes impossibilitando uma
cirurgia reparadora, por isso ele teve parte do braço direito amputado. Desde o
princípio ele surpreendeu a todos com sua humildade e desejo de superação. As
primeiras palavras após a cirurgia foram: "Dra. você pode dizer aos meus
familiares que eu estou bem? Diga a eles também que isso aqui (olhando para o
braço amputado) não vai me tirar da aviação. Se ainda não existe, eu serei o
primeiro piloto de helicóptero a voar com prótese", em conversa com
psicóloga do HUGO – Hospital de Urgências de Goiânia.
Apesar do
otimismo, naquele instante ele nem podia imaginar a proporção do seu desejo.
Ele nem sequer pensava que mudaria a história da sua própria vida, muito menos
a história da profissão que escolhera. Mas para alcançar esse objetivo não foi
tão fácil quanto parece, nem tão difícil quanto alguns gostariam. Não foi tão
fácil porque o período de recuperação física foi demasiadamente doloroso. Não
foi tão difícil porque apenas uma minoria insistia em desacreditar na sua volta
à profissão.
Contudo, o
fato de não ter sido consumido por desesperança, revolta ou qualquer outro
sentimento de incapacidade, acelerou o processo de regeneração do membro
amputado, fazendo valer como nunca velhos e conhecidos ditados: “sua mente, seu
guia”; “mente sã, corpo são”. Sua paciência e perseverança rendiam avanços
incríveis ao seu corpo, a cicatrização foi rápida comparada a outros casos,
logo ele deu início à segunda fase do tratamento.
Iniciou as
sessões de fisioterapia e terapia ocupacional no CRER e lá conheceu a equipe da
Oficina e Loja Ortopédica da instituição. Foi quando recebeu a notícia de que o
SUS forneceria uma prótese para que ele pudesse retomar as atividades diárias
mais simples, tais como: abrir a geladeira; manusear talheres, copos; escrever;
abotoar a camisa e etc. Mais que depressa Carlos sugeriu: “Eu agradeço a
atenção, mas seria possível desenvolver uma prótese que me reabilitasse a
voar?”. A resposta não poderia ter sido mais animadora, pois eles disseram que
fariam quantas próteses fossem precisas para encontrar o modelo ideal. Desafio
lançado!
Carlos voltou
para casa esperançoso com o que era até o momento, a possibilidade mais real de
voltar a voar. Naquele dia ele não dormiu pensando em algo que pudesse pelo
menos esboçar um projeto. Sua vontade era tanta que teve uma ideia de como
poderiam iniciar essa empreitada. Voltando ao CRER ele dividiu com a equipe o
que houvera pensado. Tendo uma teoria em mente, os engenheiros da oficina
tiraram as medidas tanto do braço, quanto do helicóptero e partiram para a
prática.
O teste do
primeiro modelo aconteceu aos exatos quatro meses após o acidente, no dia 01 de
Setembro de 2010. Ainda não era a prótese ideal. Mas cumprindo à promessa, a
equipe do CRER materializou não apenas mais um, e sim mais outros três projetos
até chegar ao protótipo. Foi com ele que em quatro de dezembro de 2011 o cmte. Carlos Santoro realizou o
recheque e renovou o seu brevê de piloto privado, se tornando o primeiro piloto de helicóptero do Brasil a voar com uma prótese substituindo o braço direito. Agora ele se prepara para
retomar os estudos almejando outras carteiras e novas oportunidades. Além de
ser um exemplo de superação, sua história alimenta a esperança de outros
profissionais que viveram perdas semelhantes.